- Sara Duelli
- Posts
- Calma, sua criança maluca
Calma, sua criança maluca
Damas, será que posso desabafar com vocês?
Minhas últimas semanas foram muito estressantes… Além de ter sido surpreendida por alguns acontecimentos muito sensíveis na minha vida pessoal, estou de TPM enquanto escrevo essa carta 🫠 Sabe aquela época do mês que você se sente inchada e descabelada, por mais que se arrume? 😅 Semana que vem irei viajar para tirar do papel um dos meus mais queridos projetos, cujo qual pretendo inaugurar dentro de pouco tempo para vocês (🥰). Se a Sara de um ano atrás soubesse disso ela estaria surtando de felicidade!
Eu, porém, apesar de minha inegável felicidade com o fato, me dei conta de que estou a encarar toda a burocracia, o deslocamento e as gravações (super spoiler👀) como uma obrigação. A verdade é que no momento eu queria entrar no meu ninho e ficar lá quietinha um bom tempo, vocês entendem? 🪹
Acontece que, mesmo neste estado monentâneo de (falta de) ânimo, mesmo quando realizo todas as minhas tarefas do dia, resisto ao descanso. Por quê? Porque ele faz eu me sentir improdutiva e, de repente, me sinto atrasada…
Você já sentiu isso?
Me sentir atrasada é um mal que me atinge de vez em quando. Por exemplo: quando eu tinha 16 anos, descobri que uma conhecida, que também praticava homeschooling (estudo em casa), tinha passado no curso de jornalismo em uma universidade federal com a mesma idade que eu e então, de repente, aos 16 anos, me senti ficando pra trás simplesmente por não estar na faculdade!

Foi mais difícil quando fiz 18 e ainda não fazia a menor ideia do que queria fazer da minha vida profissional… Eu só queria casar, ter filhos, ensinar eles em casa até serem grandinhos e então abrir uma cafeteria/floricultura😅 Por favor me digam que alguém se identifica com essa romantização simplista da existência 😂 Seja como for, eu me senti realmente muuuuito pra trás da vida, especialmente quando terminei um noivado na reta final para o casamento e vi o controle escapar das minhas mãos...
Me ocupei de empreender, abri um negócio de mesa posta e então me sentia atrasada em relação a outros negócios do mesmo ramo. Quando escolhi cursar arquitetura, aos 19, a cada semestre eu me arrependia de não ter entrado antes. A verdade é que este sentimento parecia justo em algumas circunstâncias, mas noutros, descabido.
Hoje, por exemplo, eu nunca me senti tão realizada na vida: fazendo o que realmente me apaixona, enxergando sentido e propósito no meu trabalho, cercada de pessoas que amo, servindo à vocês, estudando o que faz meu coração quentinho, ensinando e recebendo tantos retornos maravilhosos quando aplicam o que eu ensino no instagram…. E ainda assim, vez ou outra, me pego me sentindo atrasada!
Mesmo não tendo nenhum motivo para tal, mesmo estando nova, cumprindo os prazos e vendo o resultado do meu serviço diante de mim, ainda me sinto lutando contra o tempo. Como pode?
Cheguei à conclusão de que não são necessariamente as circunstâncias que provocam essa sensação. Isso pode ter a ver com um aspecto da nossa própria cosmovisão. Talvez seja um mecanismo de sobrevivência? Talvez seja um dispositivo interno, uma espécie de contínua insatisfação que nos impele pra frente? Talvez seja… Talvez a insatisfação, em alguma dose, seja necessária. Mas por que ela se faz presente quando está tudo bem?
Não quero dizer que deva-se ter a intenção de acomodar-se… Não é para isso que a satisfação serve. Mas talvez o problema seja que nos sentimos sempre atrasadas porque estamos sempre nos comparando com a pessoa errada.
Foi nesta linha de raciocínio que me lembrei de uma das 12 regras de Peterson:
“Compare a si mesmo com quem você foi ontem, não com quem outra pessoa é hoje”
Devemos nos comparar. Mas não a qualquer um, isso seria muito injusto.
Primeiro porque sempre haverá alguém mais bonito, mais inteligente ou mais habilidoso que você.
Segundo porque quando tornamos a comparação do nosso “eu” de hoje com o “eu” de ontem, o resultado será geralmente muito positivo, nos incentivando a tornar o progresso cada vez mais ascendente. E mesmo que, por algum acaso, o “eu” de ontem se destaque mais que o “eu” de hoje (de repente eu entrei em uma depressão na linha de progresso, perdi a constância na academia e engordei alguns quilos) você ainda pode olhar para trás e pensar: “Se eu já consegui isso, eu posso conseguir de novo!”
Terceiro porque neste modo de comparar-se, o elemento mais danoso da comparação externa perde sua força esmagadora (embora por uma questão de sobrevivência não se perca totalmente): a corrida contra o tempo.
É bom que se preste atenção ao tempo… Por prudência, por exemplo, jovens mulheres precisam se lembrar que seus anos férteis acabarão em algum momento, de forma que não invertam a hierarquia de prioridades da vida e os gastem construindo uma carreira como se dinheiro fosse a coisa mais importante do mundo!
No entanto, você não precisa se casar antes dos 22 porque sua amiga da igreja já está tendo o terceiro filho aos 25.
A corrida contra o tempo não é tão estreita quanto a imaginamos.
Quando decidi o título desta carta “calma, sua criança maluca” estava pensando naquela música “Vienna”, do Billy Joel:
Calma sua criança maluca, pra quê a pressa? Onde está o fogo? Você tem tanto o que fazer e tão poucas horas no dia… É melhor se acalmar antes que perca tudo.
Ao pesquisar a música para trazer um trecho nesta carta, encontrei uma edição no youtube que deixou cenas do clássico da sessão da tarde “De Repente 30” no fundo. Eu TINHA de compartilhar com vocês 🤭 Se você ainda não teve o prazer de assistir, De Repente 30 é sobre uma jovem garota, preocupada demais com sua reputação e com seu sucesso pessoal (aos 13 anos!), que acorda em sua versão mais velha com tudo que sonhou, e descobre que no final o que mais importa não são os resultados que gerou ou com que pressa os alcançou.
Vocês sabem o que realmente importa, não farei o clichê de listá-los todos. Nós só precisamos olhar ao redor pra perceber que amar, servir e aproveitar cada instante sem pressa vai nos salvar de viver a vida sem nunca vivê-la de fato.
Esta foi uma carta mais íntima que as outras, eu sei… Eu costumo me preservar no instagram para não me demonstrar vulnerável em campo de sangue. Mas aqui eu me sinto mais segura, os comentários de vocês abrindo o coração sempre me comovem, então pensei que não seria tão mal abrir um pouco do meu.
Até a próxima, damas! Beijinhos💋
Sara Duelli
Reply