- Sara Duelli
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"E se eu nunca me casar?"
Eu sei que você já pensou nisso. Inúmeras vezes eu recebo perguntas nas caixinhas do instagram que, embora de formas diferentes, questionam a mesma coisa: “E se eu nunca me casar?”
Esse é um medo aparentemente permanente em todo coração solteiro que deseja o matrimônio… Não importa se você está na casa dos 40, ou na dos 20, se alguém deseja se casar também possui o receio (nutrido ou silenciado): “e se não acontecer”?
E se eu nunca encontrar ou for encontrada? E se eu nunca admirar alguém que me ame de volta? E se eu nunca me apaixonar de forma recíproca por um homem bom e forte com quem eu possa me casar e formar família? E se eu nunca for mãe?
Este é um tema muito delicado, tão delicado que sinto tensão de tocar no assunto. Como se estivesse me aventurando a segurar uma peça de cristal muito pesada, cara e frágil… Mas o farei mesmo assim. Chame de tola ousadia ou virtuosa coragem (eu mesma não poderia decifrar), só não posso mais fugir do tema, visto que sei o quão presente ele é nas mentes e corações de todas as damas solteiras (e cavalheiros também)… Seja como for, fico ao menos feliz de poder fazê-lo antes de eu mesma me casar. Seria muito fácil discorrer sobre uma possibilidade que já não mais me afligiria. Será que poderia tratar com sinceridade e legitimidade o assunto “e se eu nunca me casar” já sendo casada?
A verdade é que é absolutamente natural esse anseio aflito feminimo pelo matrimônio. Nos é natural o desejo de cultivar, de fazer crescer, de cuidar dos nossos, de ser amada e amar. Todo mês nosso próprio corpo (quando não brutalmente silenciado pelos anticoncepcionais) parece se vingar por não termos lhe dado um bebê 😂
De repente, após uma agitada fase de período fértil, quando você se olha no espelho e se acha a mais sexy das mulheres, está esperançosa, com vontade de sair, de ver gente, de rir, a periquita coça e o útero também… Vem uma fase menos brilhante, você quer ficar mais quieta, quer comer o que ver na frente, torna-se ansiosa e os pensamentos podem ser cruéis… Aparece aquele reel no instagram de um bebê gordinho, lindo e fofinho rindo para um golden retriever brincalhão… Um nó na garganta… Você passa rápido porque não quer se entristecer e o próximo reel é ainda pior: um namorado bem aparentado fazendo cócegas na namorada, os dois riem, parecem tão felizes…
Em contrapartida, a última mensagem do seu whatsapp foi da sua mãe pedindo pra comprar uma dipirona, o grupo da faculdade discutindo quem não entregou a sua parte no projeto e seu chefe perguntando se pode fazer hora extra essa semana… Pin! Uma notificação no instagram: mais um reel que sua melhor amiga lhe enviou, e daí você para a sua vida para assistir outras pessoas vivendo a vida delas.
E aí? E se nunca acontecer?
Meu pai costuma usar uma frase como abertura de um comentário sempre que pretende dizer algo que não é certeiro, quando se trata apenas de uma especulação: “É uma possibilidade”, ele diz. “Você sabe lidar com possibilidades?”
O que ele quer dizer é que, o que quer que ele pretenda falar a seguir (possivelmente algo que aumentaria os ânimos, seja por emoções positivas, seja negativas) não deve ser tratado como um destino inevitável. Seja bom ou seja ruim, a reação à possibilidade deve ser racional e deliberada. Conciente de que trata-se APENAS de uma possibilidade.
Existe um mundo de possibilidades. Sempre acho muito engraçado quando alguma feminista argumenta cruelmente que “todo homem é um estuprador em potencial”. Não porque eu discorde, mas é que… Todo mundo é um estuprador em potencial.
A definição de potência o diz.
Eu não tenho potencial pra ser um pássaro, mas eu tenho potencial para ser estupradora, para ser médica, para ser loira… Eu não tenho potencial para ter 1,8m de altura, mas eu tenho potencial para ser gorda, para ser mendiga, para ser astronauta (chances muito muito baixas, mas não inexistentes)…
Existem coisas que possuem 0% chance de acontecer (um ser humano ganhar asas e poder voar, por exemplo), outras que possuem alguma chance, por mais ínfima que seja (eu ficar calva, posso ouvir um amém?), já outras que possuem uma boa chance, embora não absoluta (meu pai ficar careca).
A ansiedade nos obriga, equivocadamente, a dar valor para coisas com baixíssima probabilidade de acontecer como se elas tivessem, ao contrário, uma chance alta.
É impossível viver assim.
Se fosse o caso, jamais sairiamos de carro novamente porque há a possibilidade um acidente. Mesmo que estejam todos usando cintos, mesmo que as leis de trânsito e as penalidades diminuam as chances de que outros motoristas tomem más decisões, mesmo que estejamos dentro dos limites de velocidade… Há uma chance.
Vale a pena lidar com ela como se fosse uma chance altíssima? Vale a pena deixar de comer pela possibilidade que a comida contenha algum virus que pode nos contaminar? Obviamente, pelo bem da espécie humana e da nossa saúde mental, não.
E a possibilidade de não se casar? Em qual categoria ela se encontra? Com certeza não é a zero, pois todos temos potencial para a solterisse permanente…
Qual a probabilidade de “solterisse permanente” que você daria para uma jovem, linda, agradável e talentosa mulher que tem o perfil das redes sociais aberto, está sempre presente em eventos sociais interessantes, criando conexões?
Baixa, certo?
A mesma jovem, sem exposição, tem a mesma possibilidade ou não?
Estamos lidando com matemática de probabilidade, então sejamos lógicos: não. Suas chances de se conectar com um possível marido diminuiram, enquanto as chances da “solterisse permanente” aumentaram, certo?
Em qualquer cenário (sendo baixa ou sendo alta a possibilidade de se casar) a de não se casar permanece… E há um pequeno agravante: no caso de haver ou não um acidente, o mal destino é uma possibilidade futura. No caso de casar-se ou manter-se solteiro, o “mal” destino já é uma realidade presente.
A grande questão não é como lidar com o futuro, na possibilidade da solterisse… Mas como lidar com a solterisse que já me aflige hoje.
Como lidar com a possibilidade de nunca se casar + a realidade eminente de que você já não é casada?
A meu ver existem apenas duas formas de lidar com isso:
A primeira é diminuir ao máximo possível a probabilidade indesejada, de forma que preocupar-se com ela se torne cada vez mais desnecessário: o cérebro inconcientemente calcula a baixa probabilidade e diminui os esforços que empenha em sanar o problema, diminuindo o estresse por consequência. Como fazer isso na prática? Você diminui a probabilidade da “solterisse permanente” quando ajusta os possíveis empecilhos para um matrimônio…
Quando se preocupa em se tornar cada dia mais atraente. O que o sexo oposto considera atraente? O que o homem/a mulher dos seus sonhos desejaria em um(a) parceiro(a)? Como você pode se aproximar deste ideal? É ficando mais bonita, mais rico, mais agradável, mais interessante?
Quando se expôe em ambientes propícios para criar conexões. Quando seu perfil no instagram é atraente e aberto. Quando você aprende a jogar o lenço, no caso das damas, ou a abordar uma dama, no caso dos cavalheiros… Quando você frequenta lugares que as pessoas que você admira frequentariam: a igreja, a academia, eventos de negócios ou de cultura…
Quando você para de super-idealizar a pessoa com quem se casaria… É muito comum que, na ânsia de fazer cumprir todos os itens de um checklist pessoal, pessoas incríveis sejam desvalidadas. A verdade é que existem poucas coisas que são realmente essenciais em um(a) parceiro(a) com potencial ao matrimônio. De resto, a grande pergunta que você deve se fazer é: “Eu seria capaz de amar essa pessoa, em um ato racional e decidido até o último dia de nossas vidas, APESAR de todos os seus defeitos?”
O segundo modo de lidar com as possibilidades é, paralelamente ao primeiro modo, encarar esperançosamente a possibilidade de nunca se casar…
A esperança nada mais é do que a expectativa de um bem futuro.
Ela é responsável por nos impulsionar em TODAS as atividades de nossas vidas. Tudo que fazemos, o fazemos porque esperamos um bem futuro. O que move uma pessoa a agir conforme o primeiro modo é a expectativa do bem futuro de se casar. O próprio ato de se casar é movido pela expectativa de um bem futuro: uma boa relação, uma felicidade futura, uma satisfação e realização pessoal futura.
A esperança é preciosíssima. Victor Frankl, pai da logoterapia, enfrentou os campos de concentração na época do holocausto e observou que existiam dois tipos de pessoas:
Embora ambos os tipos passassem pelos mesmos males, um deles definhava a alma antes do corpo, enquanto o outro tipo morria ainda com a alma viva. O que as diferenciava era a esperança. As que morriam ainda em vida não tinham espectativa de bem futuro… Seja a esperança de reencontrar entes queridos, seja a esperança suprema da glória após a morte… As que sofriam ou mesmo morriam, mas mantinham-se vivas, o tinham.
A esperança nos mantém vivos, em movimento. A esperança de um dia se casar move. Mas agora quero que, além dela, cultivem ainda outra esperança: a esperança de encontrar o bem mesmo na solterisse. Para isso, é necessário 3 coisas…
Para continuar citando Frankl, ele dizia, como eu o ressou várias vezes, que é necessário 3 coisas para encontrar o sentido da vida (e nenhuma delas envolve se casar, embora possam se manifestar também no matrimônio).
Viver por um ideal;
Amar alguém incondicionalmente;
Aceitar o inevitável sofrimento da vida;
Precisamos perseguir a manifestação dessas 3 coisas ainda na solterisse, se quisermos que ela ganhe algum sentido e que a própria alma ganhe esperança: a esperança de uma satisfação que, embora não plena (e já não o seria no casamento) aponte para um Bem futuro supremo: um pedacinho da eternidade celestial na terra.
É preciso que nossa rotina diária, nosso plano de vida e nossas mentes tenham esses ingredientes… Um ideal, amor incondicional, resignação ao sofrimento, esperança.
Um ser sem um ideal é um ser sem coragem. Coragem de lutar pelo que o acredita. Coragem de sacrificar-se pelo o que acredita. Coragem de perseguir o que acredita.
O que você acredita? Qual a verdade que você defenderia mesmo que todos discordassem? Pelo que você permaneceria firme, não por teimosia, mas por genuína convicção?

Existem inúmeros ideais… O ideal da honra, da família, o ideal da feminilidade ou da masculinidade, o ideal da santidade, da liberdade… Inúmeros guerreiros morreram lutando pela liberdade de suas nações. Inúmeros casais permanecem juntos nos tempos difíceis porque acreditam no ideal da família (muitos se dissolvem porque não o creem)… Inúmeros veganos, ambientalistas e socialistas vivem por seus ideais. Muitos mártires morreram pelo ideal da Cruz.
Pelo o que valeria a pena morrer? Ou, para ser mais realista: pelo o que você viveria, lutaria, argumentaria, se desgastaria, serviria, sacrificaria-se (se não seu sangue, ao menos seu suor)?
Existem médicos que trabalham para ganhar dinheiro e servirem suas famílias, eles possuem o ideal da família. Existem médicos que acreditam tanto em algum ideal de saúde que o anunciam como se fossem pregadores de um evangelho. Eles creem que aquilo pode mudar a vida das pessoas e querem que o maior número possível delas descubram.
Existem outras pobres almas que vivem para si mesmas… Elas não acreditam em nada exterior a si mesmas. Só querem uma vida confortável, um bucado de dinheiro e sexo. Elas possuem a esperança, a expectativa de um bem futuro: o prazer. Isso pode funcionar enquanto tudo estiver bem. Mas são as mesmas pessoas que definhariam diante do sofrimento crônico, da doença, da eminencia da morte, da velhice, da imobilidade… quando a possibilidade do prazer futuro é extinta.
Eu creio que os ideais de feminilidade, de masculinidade, de religião, de santidade, de virtudes, pode mudar a vida das pessoas. Não apenas a presente, mas a futura… Isso me faz desgastar-me no meu trabalho, me faz ir mais longe do que precisaria ir para apenas ganhar dinheiro, me faz estar escrevendo essa carta às 23:00 de um sábado…
Veja que o ideal sempre se relaciona à pessoas. Outras pessoas. Está profundamente conectado com a segunda sentença… O amor incondicional não se manifesta apenas no matrimônio.
Amamos incondicionalmente quando agimos com graça. Quando deixamos a justiça de lado e acolhemos. Quando perdoamos traições, quando nos doamos sem calcular os lucros pessoais, às vezes até entrando em prejuizo, às vezes sem querer, sem ter nem mesmo afeição pelo benefiado. Quando suprimos carências, sejam físicas, espirituais ou emocionais, sem exigir nada em troca, nem mesmo reconhecimento…
Uma pessoa manifesta esse amor no casamento quando perdoa seu parceiro mesmo quando ele não merece. Facilmente uma mãe morreria por seus filhos, tomando parte no sacrifício de Cristo. Mas esse amor não precisa do matrimônio para se manifestar: sua inevitável vocação à maternidade é exercida quando você cuida de pessoas como fez madre Tereza, que nunca se casou mas foi mãe de muitos! Quando nutri suas amizades, alimenta necessitados, visita os orfãos e as viúvas, instrue seus pacientes ou alunos… Estou a exercer minha maternidade escrevendo essa carta agora mesmo…
Da mesma forma, por exemplo, um cavalheiro está exercendo sua liderança típica da paternidade quando conduz sua equipe para conquistar os melhores resultados, quando assume o controle e os faz chegar à vitória, alimenta suas mesas, extrai o melhor dos membros da sua equipe.
O amor incondicional é uma decisão, uma escolha, que não requer sentimentos, apenas sacrifício.
O sacrifício é como chamamos o sofrimento que tem sentido. No entanto, muitas vezes não encontraremos sentido no sofrimento… Há uma carta sobre isso chamada “Nunca Vai Parar de Doer” e por isso não me delongarei por aqui, mas é preciso abraçar o sofrimento como inevitável, como parte da vida, dos nossos dias, da nossa rotina. Envolvê-lo de esperança e alegria, empenhando-se em tornar a sua vida comum extraordinária, encontrando e promovendo beleza.
A verdade é que pessoas apaixonadas pela vida são apaixonantes. Pessoas que sabem aproveitar os dias, tornar um simples banho, mágico, usando apenas uma vela e uma playlist gostosa… Deslumbrar-se com um pôr do sol, rir com amigos, conhecer novos lugares, ler novos livros, planejar viagens, almoçar com seus pais, ir à igreja, à academia, chorar com uma comédia romântica…
É possível encontrar um bem na solterisse, é possível construir uma vida pela qual você se apaixone… É possível fazer mais dinheiro, ficar mais gata, melhorar sua saúde mental e física, experimentar novas comidas, novos hobbies, novos filmes…
Sempre que alguém me marca em um story com a frase “a vida é um acontecimento raríssimo” sobre uma linda foto ou vídeo que capturou sua atenção… Aaah, como me sinto feliz! Por estarem treinando o olhar para encarar a vida detectando e contemplando a beleza discreta… A beleza pomposa dificilmente passa despercebida, apenas almas extramamente insensibilizadas a ignoram. Já a beleza discreta, do dia a dia… Aaah, é necessário um coração sensível, um olhar atento e uma disposição generosa para com a realidade…
Há esperança na solterisse. E ela pode coabitar à esperança do matrimônio, porque no final, o resultado de tudo é o mesmo:
Vá pra academia, fique forte, olhe no espelho e goste do que vê. Vá pra igreja, reze, cultive virtudes, viva por um ideal, ame as pessoas ao seu redor, construa uma vida pela qual se apaixone, não viva para si escondendo-se dentro do seu quarto: vá ser útil, vá aprender algo novo, vá em eventos, pratique esportes, torne-se interessante como consequência de interessar-se e deleitar-se por boa cultura… Faça uma pasta no pinterest, explore novos hábitos, tenha metas, proponha-se, cumpra, conquiste, desfrute, proponha-se de novo, seja fértil na vida e “colha os botões de rosa enquanto pode”…
PARA AS VIRGENS, QUE APROVEITEM O TEMPO
Colham botões de rosas enquanto podem,
o velho Tempo continua voando:
E essa mesma flor que hoje lhes sorri,
Amanhã estará expirando.
O glorioso sol, lume do céu,
Quanto mais alto eleva-se a brilhar,
Mais cedo encerrará sua jornada,
E mais perto estará de se apagar.
Melhor idade não há que a primeira,
Quando a juventude e o sangue pulsam quentes;
Mas quando passa, piores são os tempos
Que se sucedem e se arrastam inclementes…
Por isso, sem recato, usem o tempo,
E enquanto podem, vivam a festejar,
Pois depois de haver perdido os áureos anos,
Terão o tempo inteiro para repousar.
Eu sei que esse lindo poema se refere à juventude… Mas não quero que pensem que trata-se de juventude de corpo, o que excluiria minhas caras damas e cavalheiros que já passaram da primeira idade… Pense na sua alma como algo eterno… Pense em sua vida aqui na terra com uma fração pequeniníssima dela, uma pequena fração que determina seu destino final e que deve ser aproveitada ao máximo…
Apaixone-se pela vida, dê a ela sentido hoje e, seja o que for que o futuro lhe reservou, o presente é uma dádiva pela qual podemos, e devemos, sermos gratos e produtivos. Lute, ame, sofra e divirta-se!
Até a próxima, damas e cavalheiros! Beijinhos💋
Sara Duelli
Ah! Você já conhece A Essência?
A Essência é um programa que eu desenvolvi cheio de aulas minhas e de convidados com conteúdos exclusivos sobre relacionamentos, espiritualidade e amadurecimento pessoal!
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